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Planeta dos Macacos: O Reinado (2024) | Crítica


A franquia Planeta dos Macacos já tem quase 60 anos de estrada no cinema. Contando com 10 filmes ao todo, além da presença em outras mídias, a saga de ficção científica baseada nos livros de Pierre Boulle pode ser definida como uma verdadeira montanha-russa cinematográfica. O original de 1968 conta com um enredo no estilo Além da Imaginação (afinal, roteiro assinado pelo criador da série, Rod Serling), Charlton Heston (Ben-Hur) como protagonista, que na época era uma grande estrela de Hollywood, e um dos finais mais emblemáticos da história do cinema. Com um orçamento consideravelmente inferior, foram produzidas quatro continuações, que infelizmente, passam muito longe de ter o mesmo brilhantismo do primeiro longa, sendo um emaranhado de boas ideias desperdiçadas. 

Em 2001, Tim Burton ficou encarregado de fazer, nas palavras dele, ''uma reimaginação da franquia Planeta dos Macacos''. Apesar de bem produzido, essa versão é vazia em conteúdo, e quase nada se sente da carga autoral de Burton no filme. E olha que eu nem vou entrar em detalhes sobre aquele final espantoso... Enfim.

Pulamos para 2011, quando houve uma nova tentativa de reviver essa saga, com Planeta dos Macacos: A Origem, que dessa vez, foi uma tentativa muito bem sucedida, que provou que ainda dava para colher bons frutos dessa franquia. Deixando de lado a maquiagem prática e aplicando efeitos visuais impressionantes já para a época, a trilogia centrada na ascensão de Cesar (Andy Serkis) é certamente uma das trilogias mais consistentes dos blockbusters pós-2010, indo além de uma produção ambiciosa e entregando histórias empolgantes de se acompanhar. Passados sete anos desde o último longa dessa franquia, chegamos em 2024 com um novo filme, que agora evolui o status para uma quadrilogia. 

Vendido como um soft reboot, ou seja, continuando os acontecimentos dos filmes anteriores mas estabelecendo novos rumos narrativos, Planeta dos Macacos: O Reinado apresenta uma fragilidade em relação a consolidação de novos conceitos de trama, e até por isso, demora consideravelmente a encontrar o tom ideal que busca para contar essa história, mas quando consegue se encontrar, resgata bons elementos que os três filmes anteriores deixaram como legado, palavra essa que dita as regras por aqui.


Primeiramente, acho importante destacar o cuidado mantido em relação ao valor de produção dessa franquia. O CGI dos personagens em mistura com cenários reais faz toda a diferença para a maior imersão do espectador com o universo. A evolução do VFX é constante e tem que ser mesmo, pois é um dos principais elementos dessa nova fase que a franquia vive. Passado mais tempo que os macacos dominaram tudo e os humanos foram exterminados em massa devido à pandemia da gripe símia, a vegetação tomou conta de tudo, como costuma ocorrer em histórias onde a presença humana se tornou mínima na Terra.

O Reinado tinha a complicada tarefa de reintroduzir o espectador nesse período pós-Cesar, seja para os que já haviam visto os três longas anteriores, ou para quem caiu de paraquedas aqui. Para ajudar um pouco, o longa abre com um prólogo que explica brevemente o essencial a se saber do passado, para assim situar o momento que foi, e o que está colocado na mesa dessa vez. Partindo com as próprias pernas para o que nos será apresentado, vemos novos sistemas de organização social sendo aplicados entre os macacos, onde nesse recorte, existe uma importância dada para as águias, como uma espécie de companheiros que cada símio deve possuir. 

É durante uma das missões de capturar um ovo de águia para criar que somos apresentados ao protagonista da vez, Noa (Owen Teague), que é muito diferente de Cesar em vários aspectos. Ele se mostra mais ingênuo a respeito do mundo que o cerca, ao mesmo tempo que ainda parece não saber de tudo que lhe precede. Em muitos momentos, o personagem não gera tanta empolgação, mas é o suficiente para dar um ar de curiosidade para saber qual será sua próxima ação. 

Quem divide o protagonismo da história com Noa é a humana Mae/Nova (Freya Allan), que a julgar por determinados aspectos, logo se percebe que ela destoa dos demais Ecos (denominação dos humanos nesse universo), que regrediram até voltarem a possuir traços primitivos de milhões de anos atrás. Mae possui uma áurea enigmática, o que não nos permite ter completo acesso às suas motivações, algo que se justifica no roteiro. No que é proposto para sua personagem, Freya atua de maneira eficaz.

Do núcleo secundário, também vale falar de Raka (Peter Macon), que tem uma participação curta porém marcante, do tipo que fica fazendo a gente querer ver ele mais vezes em cena. Outro humano presente aqui é Trevathan (William H. Macy), servente do clã de Proximus Cesar (Kevin Durand), e que apresenta um conformismo de ter que viver dessa maneira a partir de agora.


Se por um lado existe ainda uma boa sintonia a respeito de elementos de outros filmes aqui, o mesmo não pode se dizer de outras coisas, como a trama. O filme tem exatamente 2 horas e 25 minutos, e não parece que o longa sabe aproveitar o tempo disposto, preferindo se manter encolhido narrativamente e não explorando todo o potencial que diversos tópicos deixam durante o decorrer da história. Quem já viu os filmes originais, vai perceber que esse aqui puxa eles na memória algumas vezes, com algumas referências até bem perceptíveis. Existe para mim, um incômodo no que diz respeito a um rendimento à tendência atual de franquias blockbusters de querer antecipar elementos a fim de trabalhar mais em uma possível sequência, o que faz questionar a importância de ter sido colocado no longa. 

Como já falei aqui, legado é uma palavra que permeia O Reinado. Personagens como Raka, e o vilão, Proximus, são responsáveis por trazer à tona o que Cesar representou para esses macacos no passado, ainda que o que ambos propagam sobre sua figura representam exatos opostos, revelando uma distorção de discursos que talvez já venha de muito tempo antes deles. Raka, como devoto das crenças de Cesar, tem o trabalho de relatar para Noa o que de fato o líder era. Já Proximus, na abordagem ''Dai a César o que é de César'', usa de seu poder de influência para distorcer a seu favor o que o líder símio pensava. Em determinados momentos, me lembrou o personagem Napoleão, do livro A Revolução dos Bichos. 

Apesar desse quarto filme ter diversos assuntos de grande interesse, como perpetuação de memória, liderança, e o papel de cada um em uma sociedade, nada se aprofunda o suficiente para gerar um peso significativo para a trama, operando quase sempre em uma frequência cômoda e conformista. As sequências de ação de Wes não chegam a ser tão inventivas e pulsantes como as elaboradas por Matt Reeves nos dois filmes anteriores, o que não nos faz ter o ânimo necessário para acompanhá-las. 

Na trilha sonora, sai Michael Giacchino e entra John Paesano, que já trabalhou anteriormente com Wes na trilogia Maze Runner. As orquestrações de John entram de maneira mais tímida durante o filme e nunca se mostra um aspecto vivo a favor da história, exceto quando há ligações às trilhas do próprio Michael. 


Ainda que apresente diversas fragilidades, Planeta dos Macacos: O Reinado faz um bom trabalho em pavimentar o caminho novamente para contar novas histórias nesse universo vasto de uma das histórias mais lembradas da ficção científica. Resta saber agora, em eventuais sequências, se o que foi deixado aqui será aproveitado e amplificado, a fim de enriquecer mais ainda os eixos temáticos que a saga promove a cada longa.

Nota: 7/10




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