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Guerra Civil (2024) | Crítica


Título original: Civil War
Direção: Alex Garland
Sinopse: Em um futuro próximo e distopico, uma equipe de jornalistas viaja pelos Estados Unidos durante uma guerra civil entre o governo estadunidense e as "Forças Ocidentais Separatistas", lideradas pelo Texas e pela Califórnia. O grupo luta por sua sobrevivência numa época em que o governo se torna uma ditadura, e milícias extremistas partidárias cometem regularmente crimes de guerra.


O jornalismo é um dos setores mais importantes de nossa sociedade. Não falo isso de maneira enviesada por ser um, mas pare para pensar, quantas informações você deixaria de ter se não houvesse uma pessoa responsável por fazer um trabalho de pesquisa para que a notícia chegasse até você? Informações de extrema utilidade, e algumas até essenciais para a sobrevivência humana. Também é um setor que atua em diversas frentes das mais variadas maneiras, a fim de registrar uma história. 

Quando falamos da cobertura jornalística de um conflito armado, é essencial a presença de um jornalista informando a população sobre o que está acontecendo, além do mais quando consideramos a presença visual. Desde a invenção da câmera no século XIX, nunca deixou de haver uma guerra em que não foi documentado os horrores e os rastros de destruição que um episódio como esse deixa. Na faculdade, tive um professor que falou que ''no fotojornalismo, a imagem tem que falar por si só. A pessoa tem que ver a foto e saber somente por ela do que se trata''. 

Há também o fator emocional. É difícil estar diante de cenas tão trágicas e de alguma forma não se sentir abalado por aquilo. Em uma profissão com um grau de risco tão elevado, há também aqueles que realmente alimentam um vício pela adrenalina que todo aquele cenário gera. Alex Garland, que já tem um longo trabalho no cinema, traz seu quarto trabalho como diretor, evidenciando a importância da profissão do fotojornalista.


O enredo não contextualiza bem o que levou ao cenário que nos é apresentado na narrativa. Em grande parte do tempo isso não chega a ser um problema, porém, em determinados pontos-chave da história, a carência de um panorama da situação prejudica a experiência. Por outro lado, o roteiro mostra de maneira eficaz toda a tensão que um fotojornalista passa em situações como essa, por sempre ter que estar na linha de frente para registrar as imagens. A questão política que gera a consequência narrativa não é tão explorada, deixando margens de interpretação, mas a mensagem é clara de que independente do lado, guerras deixam rastros de violência e um impacto sem precedentes para a população da região que seja.

Seguindo uma proposta que remete aos road movies, a trama sabe dosar momentos de mais calmaria com sequências mais explosivas, no sentido mais literal da palavra. Alguns momentos me remeteram a produções como Filhos da Esperança (2006) e The Last Of Us (2023-atualmente).


O longa é conduzido pelo trio de protagonistas, encabeçados por Kirsten Dunst, Cailee Spaeny e Wagner Moura. Kirsten, encarnada como Lee Smith, entrega uma jornalista experiente porém enrijecida pela profissão que leva, algo que fica bem evidenciado em sua fisicalidade. Ela age de uma maneira ríspida muitas vezes, até de forma inconsciente. Cailee, como Jessie, por outro lado, é uma jornalista novata, que se vê pela primeira vez naquela situação, e não tem a sustentação emocional para digerir tudo aquilo, o que de certa forma, faz com que nós enquanto espectadores, sejamos ela naquele cenário. Algo que reparei é que metaforicamente, há diversos contrastes de sua personagem com a de Kirsten, não só porque é uma veterana em trabalho com uma novata, mas até mesmo, no método de trabalho. Lee utiliza uma câmera digital, que já tem a imagem pronta, pois torna o processo mais ágil. Jessie utiliza-se de uma câmera analógica, que requer tempo e paciência para que o filme seja revelado. É um contraste que funciona muito bem para evidenciar o conflito de gerações, seja por idade, ou por anos de profissão.

Wagner Moura na pele de Joel traz um personagem que tem prazer em sentir a adrenalina de estar em meio ao conflito. De certa forma ele traz um contraponto a Lee e Jessie, o que complementa a química entre os protagonistas. Dentre os coadjuvantes de destaque, temos a presença de Stephen Mckinley Henderson como Sammy, que é consideravelmente mais veterano no ofício que os demais, e tem bons diálogos. Jesse Plemons também está no filme, e é responsável pela cena mais aterrorizante de todo o longa.


A direção de Alex Garland traz diversos elementos bastante característicos do cineasta. Cenas de caráter contemplativo, e sequências que parecem até um videoclipe, com músicas que você não pensaria que combinariam com determinado momento, mas acabam caindo como uma luva. Nos momentos mais de ação, a condução também é ótima, sem câmera tremida, ou qualquer coisa assim. A escolha de dar breves pausas durante o filme parar mostrar as fotos registradas também vem muito a calhar na imersão da narrativa.

A trilha sonora usa muitas canções de hip-hop, country e até um pouco de rock. O som do filme é estridente no melhor sentido possível. Se tratando de uma obra cujo tema central é uma guerra, o cuidado melhor nesse aspecto é muito importante.


Com um olhar atual e urgente, Alex Garland traz uma reflexão política e social por meio do olhar do jornalismo, que é de suma importância para denunciar horrores, conscientizar e promover mudanças. 

Nota: 8,5/10





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