Título original:
Dune: Part Two
Direção:
Denis Villeneuve
Elenco:
Timothée Chalamet,
Zendaya,
Rebecca Ferguson
Sinopse: Diante da difícil escolha entre o amor de sua vida e o destino do
universo conhecido, Paul Atreides (Timothée Chalamet), agora ao lado de
Chani (Zendaya) e dos Fremen, dará tudo de si para evitar o futuro
terrível que só ele pode prever.
Quando comecei a me interessar pelo cinema, o gênero que mais me chamou
atenção foi o da ficção científica, e não é para menos. É um tipo de
filme que aguça muito a imaginação de uma pessoa, especialmente uma
criança. Star Wars acabou se tornando minha saga de maior apego, e
calma, antes que alguém venha comentar, eu sei que a franquia trabalha
em um limiar que não chega a ser totalmente sci-fi, mas é inegável que
há influência. George Lucas, o criador de
Star Wars, nunca negou que uma de suas inspirações foi Duna, livro escrito pelo
jornalista
Frank Herbert. Procurando por histórias similares, sempre notei que grande parte dos
autores de obras cinematográficas diziam se inspirar em Duna, então
passei a entender que havia uma importância muito grande do livro nesse
gênero.
Quando soube, no fim da década passada, que haviam planos para adaptar
a série de livros para o cinema, fiquei bastante curioso para ver nas
telas o que inspirou tantas histórias que eu conheço. Nesse meio tempo,
também soube que não era a primeira vez que essa história dava as caras
no cinema, já que o renomado
David Lynch
já havia feito uma adaptação nos anos 80, mas que ele próprio prefere
fingir que não trabalhou no projeto. Em 2021,
Denis Villeneuve, um cineasta cujo trabalho eu gosto bastante, lançou
sua versão de Duna, em um período que vale lembrar, ainda éramos assombrados pela
pandemia de COVID-19, o que impactou diretamente na recepção do filme
nos cinemas, e também com uma estratégia controversa da Warner de lançar
ao mesmo tempo no catálogo do HBO Max. Não vi Duna no cinema, e acabei
vendo em casa próximo do Oscar, pois foi indicado, e tenho sentimentos
mistos com a primeira parte.
No quesito técnico, não tem nem o que falar. O vislumbre visual da
cinematografia traz sequências imagéticas que te fazem pensar sobre
aquele universo além do que a cena mostra. O som também faz toda a
diferença, com os efeitos sonoros dos equipamentos, de personagens e da
ambientação. Contudo, narrativamente o filme me passa uma impressão de
que o freio de mão é puxado diversas vezes. Ou seja, que seguram muito
da história para a segunda parte, e acabam tratando esse primeiro filme
com um caráter altamente introdutório. Agora, em 2024, depois de ser
adiado, a parte 2 finalmente foi lançada, e mostrou que eu não estava
totalmente equivocado.
Mesmo que o primeiro já tenha tido um imenso trabalho de apresentar a
mitologia e o que lhe acompanha, a continuação ainda traz muitos
elementos novos, mas que não são tão complicados de entender. É uma
trama densa e requer atenção, mas uma vez que você já entendeu como
funciona a lógica estrutural de Duna, tudo fica um pouco mais fácil de
absorver.
Sinto que aqui, o Timothée está bem mais à vontade em seu personagem.
Muito do peso narrativo cai em suas costas, e o ator assume a
responsabilidade com uma firmeza que me deixou surpreso. Paul Atreides
(ou os seus diversos codinomes) se vê com conflitos internos em grande
parte do filme. Sua moral é colocada em cheque diversas vezes quando
visões surgem e lhe forçam a tomar decisões sérias e importantes para
o futuro de todos, e Chalamet consegue transpor tudo isso de forma
muito eficiente para o espectador.
Também preciso pontuar aqui a atuação feroz, imponente e por vezes
gentil de Zendaya como Chani. Ela consegue deixar bem claro que suas
motivações e atitudes vão de encontro a diversos pontos que irão se
desenrolar na trama, e em algumas cenas carrega consigo uma força que
não tem como não gerar um sentimento de antecipação pelo que ela pode
fazer. Rebecca Ferguson aqui também tem bem mais espaço para brilhar,
e sua personagem, Jessica, tem uma importância narrativa muito maior
em comparação ao filme anterior.
Duna tem um elenco estelar desde o início, e aqui, surgem adições que
trazem uma riqueza ainda maior para o filme. Temos o veterano
Christopher Walken
como o Imperador, a talentosa
Léa Seydoux
como Margot Fenring, além da já citada anteriormente, Princesa Irulan
de Florence Pugh. Mas quem rouba mesmo a cena, é o vilão Feyd-Rautha,
interpretado por
Austin Butler. Sua presença evoca um sentimento de ameaça e preocupação, mas nada
disso seria possível se o personagem não tivesse tido uma introdução
tão marcante.
A sequência que apresenta Feyd na trama é praticamente um
curta-metragem dentro de Duna: Parte 2. Denis opta por filmar todo
este momento em infravermelho e dessaturando o universo de Herbert. A
ausência de cores nesse trecho nos permite enxergar a total falta de
humanidade da Casa Harkonnen, o que faz com que tenhamos uma real
noção do perigo que eles trazem consigo para o caminho do protagonista
que acompanhamos. Outro personagem do núcleo secundário que também
vale falar é o Stilgar, interpretado por
Javier Bardem. A devoção dele é completa a Paul, e Javier demonstra isso bem, e de
certa forma, traz um pouco de alívio cômico na dose certa para
momentos tensos.
A direção de Villeneuve mais uma vez é bastante segura e perspicaz. O
diretor é inteligente o suficiente para ter uma noção do que o público
quer ver, e sabe que os momentos grandiosos requerem um cuidado maior,
e ele recompensa bem o investimento do espectador. Todavia, devo dizer
que onde ele mais peca, assim como no primeiro, é no ato final, quando
sinto que perto do fim, o filme perde uma força, especialmente quando
ele mostra menos onde deveria ter mais. O visual é um espetáculo à
parte. Temos aqui planos capazes de deixar o menos impressionado
boquiaberto com o que está assistindo, o que prova a eficácia das
escolhas estéticas do trabalho da equipe de direção de arte e design
de produção.
Hans Zimmer
mais uma vez assina a trilha sonora e se no primeiro ele já deixa a
sua assinatura, aqui ele se aprofunda muito mais em seus conceitos. O
experiente compositor que já orquestrou trilhas de épicos em sua
carreira busca para Duna, referências da música árabe e corais que
sonorizam os aspectos espirituais e religiosos da história. Sutilmente
também insere elementos retro-futuristas, como sintetizadores. O som é
altamente atmosférico e ajuda muito na imersão. É o típico filme que a
experiência de se ver no cinema torna tudo mais grandioso e amplifica
sensações.
Épico em todos os sentidos, Duna: Parte 2 é uma ficção científica
ambiciosa que não tem medo de se enxergar como grandiosa. Denis
Villeneuve demonstra ter um profundo conhecimento sobre a obra que
está trazendo para os cinemas, estabelecendo seu próprio ritmo em uma
história poderosa que abre precedentes para abordar muitas outras
temáticas em obras futuras e ampliar ainda mais o escopo da
narrativa.
Nota: 9/10
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