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Duna: Parte 2 (2024) | Crítica


Título original: Dune: Part Two
Direção: Denis Villeneuve
Sinopse: Diante da difícil escolha entre o amor de sua vida e o destino do universo conhecido, Paul Atreides (Timothée Chalamet), agora ao lado de Chani (Zendaya) e dos Fremen, dará tudo de si para evitar o futuro terrível que só ele pode prever.


Quando comecei a me interessar pelo cinema, o gênero que mais me chamou atenção foi o da ficção científica, e não é para menos. É um tipo de filme que aguça muito a imaginação de uma pessoa, especialmente uma criança. Star Wars acabou se tornando minha saga de maior apego, e calma, antes que alguém venha comentar, eu sei que a franquia trabalha em um limiar que não chega a ser totalmente sci-fi, mas é inegável que há influência. George Lucas, o criador de Star Wars, nunca negou que uma de suas inspirações foi Duna, livro escrito pelo jornalista Frank Herbert. Procurando por histórias similares, sempre notei que grande parte dos autores de obras cinematográficas diziam se inspirar em Duna, então passei a entender que havia uma importância muito grande do livro nesse gênero. 

Quando soube, no fim da década passada, que haviam planos para adaptar a série de livros para o cinema, fiquei bastante curioso para ver nas telas o que inspirou tantas histórias que eu conheço. Nesse meio tempo, também soube que não era a primeira vez que essa história dava as caras no cinema, já que o renomado David Lynch já havia feito uma adaptação nos anos 80, mas que ele próprio prefere fingir que não trabalhou no projeto. Em 2021, Denis Villeneuve, um cineasta cujo trabalho eu gosto bastante, lançou sua versão de Duna, em um período que vale lembrar, ainda éramos assombrados pela pandemia de COVID-19, o que impactou diretamente na recepção do filme nos cinemas, e também com uma estratégia controversa da Warner de lançar ao mesmo tempo no catálogo do HBO Max. Não vi Duna no cinema, e acabei vendo em casa próximo do Oscar, pois foi indicado, e tenho sentimentos mistos com a primeira parte. 

No quesito técnico, não tem nem o que falar. O vislumbre visual da cinematografia traz sequências imagéticas que te fazem pensar sobre aquele universo além do que a cena mostra. O som também faz toda a diferença, com os efeitos sonoros dos equipamentos, de personagens e da ambientação. Contudo, narrativamente o filme me passa uma impressão de que o freio de mão é puxado diversas vezes. Ou seja, que seguram muito da história para a segunda parte, e acabam tratando esse primeiro filme com um caráter altamente introdutório. Agora, em 2024, depois de ser adiado, a parte 2 finalmente foi lançada, e mostrou que eu não estava totalmente equivocado.


A história começa exatamente do ponto em que o primeiro acaba, mas dessa vez, contando com uma breve contextualização narrada pela princesa Irulan (Florence Pugh), algo que me lembrou o início da versão de Lynch. Agora tendo estabelecido os principais conceitos, Villeneuve, juntamente com o roteirista Jon Spaihts, ampliam o escopo narrativo, mas entenda quando eu digo que ampliam MESMO! A segunda parte nos apresenta os princípios religiosos presentes no universo de Duna, algo que foi apenas pincelado na primeira parte, mas que aqui, toma uma proporção muito maior, sendo vital para o desenvolver da trama. Dentro desse tópico, é explorado desde o mito messiânico em torno da figura de Paul Atreides, até o culto à personalidade, fanatismo religioso e o poder da fé. Também somos apresentados a um novo espectro que compõe a linha política desse universo, e que acaba por estabelecer a situação de conflito central desse longa. 

Mesmo que o primeiro já tenha tido um imenso trabalho de apresentar a mitologia e o que lhe acompanha, a continuação ainda traz muitos elementos novos, mas que não são tão complicados de entender. É uma trama densa e requer atenção, mas uma vez que você já entendeu como funciona a lógica estrutural de Duna, tudo fica um pouco mais fácil de absorver. 


Sinto que aqui, o Timothée está bem mais à vontade em seu personagem. Muito do peso narrativo cai em suas costas, e o ator assume a responsabilidade com uma firmeza que me deixou surpreso. Paul Atreides (ou os seus diversos codinomes) se vê com conflitos internos em grande parte do filme. Sua moral é colocada em cheque diversas vezes quando visões surgem e lhe forçam a tomar decisões sérias e importantes para o futuro de todos, e Chalamet consegue transpor tudo isso de forma muito eficiente para o espectador.

Também preciso pontuar aqui a atuação feroz, imponente e por vezes gentil de Zendaya como Chani. Ela consegue deixar bem claro que suas motivações e atitudes vão de encontro a diversos pontos que irão se desenrolar na trama, e em algumas cenas carrega consigo uma força que não tem como não gerar um sentimento de antecipação pelo que ela pode fazer. Rebecca Ferguson aqui também tem bem mais espaço para brilhar, e sua personagem, Jessica, tem uma importância narrativa muito maior em comparação ao filme anterior.

Duna tem um elenco estelar desde o início, e aqui, surgem adições que trazem uma riqueza ainda maior para o filme. Temos o veterano Christopher Walken como o Imperador, a talentosa Léa Seydoux como Margot Fenring, além da já citada anteriormente, Princesa Irulan de Florence Pugh. Mas quem rouba mesmo a cena, é o vilão Feyd-Rautha, interpretado por Austin Butler. Sua presença evoca um sentimento de ameaça e preocupação, mas nada disso seria possível se o personagem não tivesse tido uma introdução tão marcante. 

A sequência que apresenta Feyd na trama é praticamente um curta-metragem dentro de Duna: Parte 2. Denis opta por filmar todo este momento em infravermelho e dessaturando o universo de Herbert. A ausência de cores nesse trecho nos permite enxergar a total falta de humanidade da Casa Harkonnen, o que faz com que tenhamos uma real noção do perigo que eles trazem consigo para o caminho do protagonista que acompanhamos. Outro personagem do núcleo secundário que também vale falar é o Stilgar, interpretado por Javier Bardem. A devoção dele é completa a Paul, e Javier demonstra isso bem, e de certa forma, traz um pouco de alívio cômico na dose certa para momentos tensos.


A direção de Villeneuve mais uma vez é bastante segura e perspicaz. O diretor é inteligente o suficiente para ter uma noção do que o público quer ver, e sabe que os momentos grandiosos requerem um cuidado maior, e ele recompensa bem o investimento do espectador. Todavia, devo dizer que onde ele mais peca, assim como no primeiro, é no ato final, quando sinto que perto do fim, o filme perde uma força, especialmente quando ele mostra menos onde deveria ter mais. O visual é um espetáculo à parte. Temos aqui planos capazes de deixar o menos impressionado boquiaberto com o que está assistindo, o que prova a eficácia das escolhas estéticas do trabalho da equipe de direção de arte e design de produção.

Hans Zimmer mais uma vez assina a trilha sonora e se no primeiro ele já deixa a sua assinatura, aqui ele se aprofunda muito mais em seus conceitos. O experiente compositor que já orquestrou trilhas de épicos em sua carreira busca para Duna, referências da música árabe e corais que sonorizam os aspectos espirituais e religiosos da história. Sutilmente também insere elementos retro-futuristas, como sintetizadores. O som é altamente atmosférico e ajuda muito na imersão. É o típico filme que a experiência de se ver no cinema torna tudo mais grandioso e amplifica sensações.


Épico em todos os sentidos, Duna: Parte 2 é uma ficção científica ambiciosa que não tem medo de se enxergar como grandiosa. Denis Villeneuve demonstra ter um profundo conhecimento sobre a obra que está trazendo para os cinemas, estabelecendo seu próprio ritmo em uma história poderosa que abre precedentes para abordar muitas outras temáticas em obras futuras e ampliar ainda mais o escopo da narrativa.


Nota: 9/10

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