Yorgos Lanthimos
é um diretor que há muitos anos me desperta curiosidade. Desde que assisti
pela primeira vez à sua estreia em Hollywood com
O Lagosta (2015), o nome do cineasta grego sempre está no meu radar, com filmes evocando
estranheza temáticas espinhosas. Agora, com Pobres Criaturas,
Lanthimos abraça o lúdico para contar uma história bastante singular que
aborda diversos temas, mas principalmente, a liberdade de ser e querer.
Bella Baxter (Emma Stone) é revivida pelo Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe) e recebe uma nova consciência. Agora, Bella terá que reaprender e
redescobrir sobre a vida, à sua maneira.
Trata-se da segunda colaboração entre Emma e Yorgos, que já haviam
trabalhado juntos no ótimo
A Favorita (2018). Aqui dá para perceber nitidamente que ambos estão em melhor sintonia, com
Stone livre, leve e solta em um papel fora do convencional, exigindo muito
de sua fisicalidade. Certamente é um papel marcante em sua carreira, que não
vai ser esquecido por um bom tempo. É cativante acompanhar a jornada da
personagem conhecendo o mundo e a cada nova descoberta, aflorando mais ainda
o desejo de explorar.
Tematicamente, o longa estabelece com facilidade sobre o que pretende
falar, e olha que fala sobre muita coisa. Livre arbítrio, o poder do
conhecimento, liberdade sexual, o ato de possuir, a ética científica. Tudo
isso permeia as 2 horas e 21 minutos da obra de forma que tudo se encaixa no
centro do que o filme quer abordar. Quem já é familiarizado com o cinema do
diretor, vai encontrar aqui muitas referências aos seus trabalhos
anteriores, principalmente
Dente Canino (2009)
e A Favorita (2018). Novamente, Yorgos se utiliza da perversão humana para
criar um humor bem característico que ele sabe fazer bem. Sinto que próximo
do fim, há um desgaste em relação a um novo elemento apresentado muito tarde
na história, e que se resolve de uma maneira muito simples, passando uma
impressão de uma dissonância da própria lógica estabelecida pelo
roteiro.
O elenco de apoio é ótimo e todo mundo tem pelo menos um momento para brilhar durante o longa. Os destaques ficam para Willem Dafoe como um cientista repleto de camadas sombrias mas também criativas, e Mark Ruffalo faz o cafajeste Duncan Wedderburn, que traz um melodrama para a narrativa que rende alguns dos momentos mais marcantes e hilários de todo o filme. Algumas pequenas participações pontuais são bastante agregadoras para a história e movem a trama para frente.
A trilha sonora assinada por
Jerskin Fendrix
é desconcertante na medida certa, com um violino estridente, além de
instrumentos de sopro e cordas propositalmente desafinados e um pouco fora
de tom, e ainda conta com um sintetizador como o elemento futurista dentro
da composição. O som do filme funciona de uma forma progressiva aos
descobrimentos de Bella, e traz um ar cartunesco muito bem-vindo.
Pobres Criaturas é uma brilhante releitura de A Noiva de Frankestein, trazendo um universo inesquecível cheio de cor, uma trama provocativa repleta de camadas e uma atuação memorável de Emma Stone. O filme estabelece de vez Yorgos Lanthimos como um dos nomes mais interessantes do cinema na atualidade. Curioso para ver o que vem a seguir em sua filmografia.
Nota: 9/10
0 Comentários