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Pobres Criaturas (2023) | Crítica

Yorgos Lanthimos é um diretor que há muitos anos me desperta curiosidade. Desde que assisti pela primeira vez à sua estreia em Hollywood com O Lagosta (2015), o nome do cineasta grego sempre está no meu radar, com filmes evocando estranheza temáticas espinhosas. Agora, com Pobres Criaturas, Lanthimos abraça o lúdico para contar uma história bastante singular que aborda diversos temas, mas principalmente, a liberdade de ser e querer.

Bella Baxter (Emma Stone) é revivida pelo Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe) e recebe uma nova consciência. Agora, Bella terá que reaprender e redescobrir sobre a vida, à sua maneira.


Trata-se da segunda colaboração entre Emma e Yorgos, que já haviam trabalhado juntos no ótimo A Favorita (2018). Aqui dá para perceber nitidamente que ambos estão em melhor sintonia, com Stone livre, leve e solta em um papel fora do convencional, exigindo muito de sua fisicalidade. Certamente é um papel marcante em sua carreira, que não vai ser esquecido por um bom tempo. É cativante acompanhar a jornada da personagem conhecendo o mundo e a cada nova descoberta, aflorando mais ainda o desejo de explorar. 

Tematicamente, o longa estabelece com facilidade sobre o que pretende falar, e olha que fala sobre muita coisa. Livre arbítrio, o poder do conhecimento, liberdade sexual, o ato de possuir, a ética científica. Tudo isso permeia as 2 horas e 21 minutos da obra de forma que tudo se encaixa no centro do que o filme quer abordar. Quem já é familiarizado com o cinema do diretor, vai encontrar aqui muitas referências aos seus trabalhos anteriores, principalmente Dente Canino (2009) e A Favorita (2018). Novamente, Yorgos se utiliza da perversão humana para criar um humor bem característico que ele sabe fazer bem. Sinto que próximo do fim, há um desgaste em relação a um novo elemento apresentado muito tarde na história, e que se resolve de uma maneira muito simples, passando uma impressão de uma dissonância da própria lógica estabelecida pelo roteiro.


O elenco de apoio é ótimo e todo mundo tem pelo menos um momento para brilhar durante o longa. Os destaques ficam para Willem Dafoe como um cientista repleto de camadas sombrias mas também criativas, e Mark Ruffalo faz o cafajeste Duncan Wedderburn, que traz um melodrama para a narrativa que rende alguns dos momentos mais marcantes e hilários de todo o filme. Algumas pequenas participações pontuais são bastante agregadoras para a história e movem a trama para frente.


Visualmente o longa é um espetáculo. A direção de arte no início faz breves referências ao Expressionismo Alemão, mas ao longo do filme, apresenta uma estética diferenciada. Remete à Era Vitoriana, mas ao mesmo tempo, traz aspectos de Fantasia com um futurismo steampunk. Por muitas vezes, me lembrou o jogo de videogame Bioshock Infinite (2013). A fotografia é complementar trazendo uma estranheza que cai como uma luva para a proposta do longa, como ângulos que usam da lente olho de peixe, além de muitos zoom in e out que entregam uma ansiedade controlada para quem assiste. Sem falar na riqueza de detalhes presente nos cenários, que torna esse filme um exemplo perfeito como fazer uma boa mise- en-scène Além disso, o figurino também diz muito sobre a trama, principalmente, as vestimentas utilizadas pela protagonista, que contam bastante a respeito do momento em que Baxter está em sua jornada. 

A trilha sonora assinada por Jerskin Fendrix é desconcertante na medida certa, com um violino estridente, além de instrumentos de sopro e cordas propositalmente desafinados e um pouco fora de tom, e ainda conta com um sintetizador como o elemento futurista dentro da composição. O som do filme funciona de uma forma progressiva aos descobrimentos de Bella, e traz um ar cartunesco muito bem-vindo.


Pobres Criaturas é uma brilhante releitura de A Noiva de Frankestein, trazendo um universo inesquecível cheio de cor, uma trama provocativa repleta de camadas e uma atuação memorável de Emma Stone. O filme estabelece de vez Yorgos Lanthimos como um dos nomes mais interessantes do cinema na atualidade. Curioso para ver o que vem a seguir em sua filmografia.

Nota: 9/10



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