Qual o real poder de uma sátira? O dicionário Oxford Languages define, na Literatura, como ''Composição livre e irônica contra instituições, costumes e ideias da época''. Na Versificação, ''composição poética que ridiculariza os vícios e as imperfeições''. Seja no meio que for, sátiras podem mostrar o lado mais hipócrita do ser humano que se utiliza de convenções sociais que muitas vezes não pertence ao seu grupo ou cultura, e acaba assumindo um papel de dono da verdade absoluta. O jornalista Cord Jefferson resolveu tematizar isso em Ficção Americana, seu longa de estreia.
Sinopse: Theolonius ''Monk'' Ellison é um escritor que nunca
publicou um trabalho de muito prestígio. Eis que ao ter um novo trabalho
recusado pela editora por não ser ''negro o suficiente'', ele resolve
escrever uma obra como resposta, em tom de brincadeira, mas o livro acaba se
tornando um best seller.
O trunfo de Ficção Americana está no seu roteiro. Cord Jefferson,
adaptando o texto de Percival Everett, utiliza-se de um elegante sarcasmo para evidenciar o olhar viciado da
mídia em associar determinados assuntos à cultura negra, especialmente a
estadunidense.
Contudo, é notável que existem duas narrativas ocorrendo ao mesmo tempo
no filme, e a partir de determinado momento, isso se torna um problema,
principalmente quando não parece haver uma harmonia entre os dois textos.
Creio que o momento em que a escrita mais se perde é no terceiro ato, onde
parece haver um conflito evidente para terminar a história da maneira mais
coerente com o que nos fora apresentado.
A direção é pouco inspirada, isso é fato, mas, considerando que é o
primeiro trabalho de alguém que nunca esteve envolvido de alguma forma com
cinema, é um trabalho competente. A trilha sonora de Laura Karpman, com
uma pegada de jazz, funciona contribui muito para a estética do
filme.
Também merecem destaque as atuações de Sterling K Brown e Erika
Alexander. Sterling, como Clifford, rouba a cena em todo momento que
aparece, sempre entregando diálogos que convidam Monk a refletir sobre
algum comportamento de sua vida. Erica, sendo Coraline, o interesse
romântico de Monk, representa uma serenidade que conforta o protagonista,
e rende ótimos momentos em que os dois contracenam, especialmente no
segundo ato.
Ficção Americana não brilha como poderia, mas levanta bons
questionamentos sobre mercado literário, sociedade e construção de
identidade midiática, e este último ponto sendo bastante pontuado por ter
um jornalista no centro criativo de todo o longa.
Nota: 7/10
1 Comentários
Excelente!
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