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Ficção Americana (2023) | Crítica


Qual o real poder de uma sátira? O dicionário Oxford Languages define, na Literatura, como ''Composição livre e irônica contra instituições, costumes e ideias da época''. Na Versificação, ''composição poética que ridiculariza os vícios e as imperfeições''. Seja no meio que for, sátiras podem mostrar o lado mais hipócrita do ser humano que se utiliza de convenções sociais que muitas vezes não pertence ao seu grupo ou cultura, e acaba assumindo um papel de dono da verdade absoluta. O jornalista Cord Jefferson resolveu tematizar isso em Ficção Americana, seu longa de estreia.

Sinopse: Theolonius ''Monk'' Ellison é um escritor que nunca publicou um trabalho de muito prestígio. Eis que ao ter um novo trabalho recusado pela editora por não ser ''negro o suficiente'', ele resolve escrever uma obra como resposta, em tom de brincadeira, mas o livro acaba se tornando um best seller.


O trunfo de Ficção Americana está no seu roteiro. Cord Jefferson, adaptando o texto de Percival Everett, utiliza-se de um elegante sarcasmo para evidenciar o olhar viciado da mídia em associar determinados assuntos à cultura negra, especialmente a estadunidense. 

Contudo, é notável que existem duas narrativas ocorrendo ao mesmo tempo no filme, e a partir de determinado momento, isso se torna um problema, principalmente quando não parece haver uma harmonia entre os dois textos. Creio que o momento em que a escrita mais se perde é no terceiro ato, onde parece haver um conflito evidente para terminar a história da maneira mais coerente com o que nos fora apresentado. 

A direção é pouco inspirada, isso é fato, mas, considerando que é o primeiro trabalho de alguém que nunca esteve envolvido de alguma forma com cinema, é um trabalho competente. A trilha sonora de Laura Karpman, com uma pegada de jazz, funciona contribui muito para a estética do filme.


Jeffrey Wright assume o protagonismo da trama e faz um bom trabalho. Ele consegue de maneira eficaz, evidenciar como seu personagem possui uma bagagem de fracassos profissionais e possui um senso crítico muito afiado. Suas cenas discutindo com seu editor deixam mais clara a crítica que o filme quer fazer. 

Também merecem destaque as atuações de Sterling K Brown e Erika Alexander. Sterling, como Clifford, rouba a cena em todo momento que aparece, sempre entregando diálogos que convidam Monk a refletir sobre algum comportamento de sua vida. Erica, sendo Coraline, o interesse romântico de Monk, representa uma serenidade que conforta o protagonista, e rende ótimos momentos em que os dois contracenam, especialmente no segundo ato.


Ficção Americana não brilha como poderia, mas levanta bons questionamentos sobre mercado literário, sociedade e construção de identidade midiática, e este último ponto sendo bastante pontuado por ter um jornalista no centro criativo de todo o longa. 

Nota: 7/10


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