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The Last Of Us (2023) - ''Salve quem puder salvar.'' | Crítica


Quantas vezes já vimos histórias de fim do mundo nas telas ? As mais variadas vertentes dessa temática já foram abordadas. Desde ocasionado por guerras (O Livro de Eli), a desastres naturais (Fim dos Tempos). Entre esses, também temos o apocalipse zumbi. Ganhou fama nos anos 60, quando o cineasta George Romero explorou as diversas possibilidades desse tipo de história, até ficar em baixa e ser reanimado em 2004 por Zack Snyder e seu remake de ''Madrugada dos Mortos'', que curiosamente, o original é do Romero. Lá em março de 2020, quando a HBO anunciou a produção da série baseada no jogo The Last Of Us (2013), logo surgiu nas pessoas um sentimento de empolgação, mas ao mesmo tempo, uma preocupação, visto que o histórico de adaptações de videogames não é dos melhores. Logo, ficou claro que a série tinha muitos desafios a enfrentar. O primeiro, de fazer uma história de apocalipse autêntica e que se diferencie das demais, e segundo, entregar uma adaptação que trouxesse muito material da obra original, mas sem parecer uma mera cópia. 

Após 20 anos do mundo entrar em total colapso por conta da infecção de um fungo que ''zumbifica'' seu hospedeiro, Joel Miller (Pedro Pascal) recebe a missão de uma organização clandestina de entregar em determinada localidade dos Estados Unidos, a garota Ellie Williams (Bella Ramsey), que pode a ser a chave de uma possível cura para a humanidade.

A curva que apontava um caminho para o sucesso de ''The Last Of Us'' já começou antes mesmo da primeira câmera começar a filmar uma cena. A escolha de trazer Craig Mazin para encabeçar a produção, juntamente com Neil Druckmann, criador do game, não poderia ter sido mais assertiva. Na ótima minissérie Chernobyl (2019), Craig já havia deixado uma marca, trazendo uma atmosfera catastrófica e angustiante, que novamente foi estabelecida na adaptação do jogo pós-apocalíptico da Naughty Dog. A fotografia de Eben Bolter com um olhar pessimista com lampejos de esperança traz ao olhar de quem assiste uma visão sobre o que essa história é, assim como a trilha sonora de Gustavo Santaolalla, que também já havia entregado um exímio trabalho no material original de 2013. 


A história segue os típicos moldes de um ''road movie'', onde os protagonistas precisam viajar por longas distâncias para atingir o objetivo necessário. Apesar de haver brecha para esse elemento narrativo ser utilizado, existe um sentimento de urgência por parte da produção para a trama andar com uma certa pressa, visto que é necessário condensar em 9 episódios, uma experiência que originalmente ocupa muito mais o tempo de quem consome. O que poderia ser um defeito que faria quem assiste não gerar um sentimento de apego pelos personagens, é compensado por diálogos profundos, e narrativas individuais que funcionam isoladamente, mas que quando conversam entre si, tornam o macro da série mais grandioso.


Tudo isso não seria feito de forma eficiente se não fosse pelo elenco astutamente escolhido. A começar pela nossa dupla de protagonistas. O Joel de Pedro Pascal (The Mandalorian) é coerente com o game, mas tem uma identidade própria, com expressões faciais e ações que entregam muito sobre seu trágico passado que o acompanha eternamente. A Ellie de Bella Ramsey (Game Of Thrones), diferentemente do game, demora um pouco mais para estabelecer uma afeição com o espectador, mas no caso da série, isso é um grande mérito, pois adiciona mais carga para os dilemas e pensamentos da personagem, e quando isso é colocado em cheque, torna-se impossível não torcer por ela. O que gera um interesse em quem assiste com certeza é a interação entre os protagonistas, que inicialmente começa de propósito como algo espinhoso e difícil, mas que com o passar dos episódios, cria-se uma conexão que nos faz torcer por eles, mesmo em momentos em que deveríamos questionar suas atitudes.

O elenco de apoio funciona de forma que complementa e em nenhum momento tira o foco de quem realmente faz essa história andar. A Tess de Anna Torv (Mindhunter) funciona de forma eficiente, Bill e Frank, interpretados respectivamente por Nick Offerman (Parks and Recreation) e Murray Bartlett (The White Lotus), trazem um alcance emocional muito maior para os personagens, gerando um terceiro episódio que já é um dos mais marcantes das séries de TV nos últimos tempos. Os irmãos Henry (Lamar Johnson) e Sam (Kelvonn Woodard) desempenham um papel importante, ao mesmo tempo que reprisam um momento que quem assiste, não esquece. Senti falta de uma presença maior do Tommy de Gabriel Luna (Agents Of SHIELD), que foi bem adaptado, e poderia ter tido mais espaço para aprofundamento por parte do roteiro. Storm Reid (Euphoria) no papel de Riley, mesmo aparecendo pouco, é o suficiente para entregar uma boa atuação. Melanie Lynskey (Two and a Half Men) interpreta uma antagonista que tem um contraste que não funciona, sendo este um ponto negativo do núcleo secundário de The Last Of Us. 


Algo que a trama enfatiza ao longo dos episódios, é que não existe dois polos completamente diferentes um do outro aqui. Não se engane, você não está vendo heróis aqui. Em um mundo perigoso por razões da natureza e hostil pela índole da natureza humana, quem ainda respira, faz o que é possível para sobreviver, o que expõe diversas questões morais que fazem a história se mover, dando ao espectador a tarefa de refletir e se questionar ''Eu faria o mesmo?'' 
No sentido técnico, a série é bastante eficaz no que se propõe. O ritmo cadenciado, juntamente com a fotografia pouco saturada, trazem um ar de solidão a esse mundo, mas também de pessimismo pela ausência de vida em abundância, junto com uma sensação de paranoia por achar que sempre existe algo lhe observando, que pode ser uma potencial ameaça. O grande destaque na direção fica para o oitavo episódio, que fica no comando do iraniano Ali Abbasi (Holy Spider), que entrega toda a brutalidade e violência que esse ponto da história precisa, na medida certa. 


The Last Of Us tira do caminho o que não precisava trazer do material original, acrescenta onde deve haver mais conteúdo, e solidifica fórmula que pode servir de exemplo para futuras adaptações de videogames. É mais um seriado que traz o nível de qualidade de produção da HBO, e que com apenas uma temporada, mostra ainda ter muito pano na manga para expandir mais ainda esse universo tão rico.

NOTA: 9/10

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