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007 - Sem Tempo Para Morrer (2021) | Crítica

O 25º filme da franquia 007 também é o último a contar com o ator Daniel Craig no papel de James Bond, que teve sua estreia em Casino Royale (2006). Os cinco filmes dele, além de terem a missão de trazer um ar mais moderno para as histórias de Ian Fleming, apresentaram uma versão mais humanizada do personagem, indo mais fundo em sua personalidade, com atitudes impulsivas e movidas pelo sentimentalismo que sempre ocasionavam em uma colisão de sua vida pessoal com a licença para matar concedida pelo serviço secreto britânico MI6. ''Sem Tempo Para Morrer'' conta sua própria história e precisa fechar todas as pontas soltas deixadas nos filmes anteriores de uma era do espião que já pode ser considerada uma das mais marcantes.

Por muito tempo, o nome para esse projeto era Bond 25, até que decidiram usar o subtítulo ''Sem Tempo Para Morrer'', e não podia ser um nome melhor o escolhido para essa história. O tempo é sem dúvidas um dos maiores personagens presentes na trama, seja pelo longo tempo de duração, pela idade de James sofrendo com conflito geracional, ou a corrida contra o relógio que pode custar a vida de amores, amigos e de maioria do mundo do agente britânico. O longa inclusive abre com uma das primeiras falas sendo ''Temos todo o tempo do mundo'', fazendo referência ao Serviço Secreto de Sua Majestade (1970), único filme da franquia a contar com George Lazenby como Bond. 


A conclusão dessa parte da franquia tem o primeiro arco narrativo em que as ameaças apresentadas pelo vilão possuem uma proporção global, diferente dos anteriores que tinham problemas mais contidos e locais. Rami Malek até que tenta, mas entrega um contraponto que não diz muito ao que veio, e até chegar no terceiro ato, não fica claro o que motiva a pôr seu plano em prática. Em grande parte do tempo, remete aos inimigos mais caricatos dos primeiros filmes protagonizados por Sean ConneryChristoph Waltz está de volta na pele de Blofeld e apesar de ter uma participação curta, ajuda a fechar de vez o que havia sido deixado em aberto em Spectre (2015). A cena que encerra sua participação no enredo é tensa e intrigante, lembrando bastante o interrogatório do Coringa em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008).


Um grande destaque é algo que chama a atenção desde o primeiro filme: O núcleo secundário. Esse ponto de qualidade que em todos os longas é ressaltado, aqui ganha uma importância maior ainda. Em alguns momentos, a presença deles dita os acontecimentos, deixando de ser apenas um mero guia de Bond em sua jornada. Retornos de personagens como Felix (Jeffrey Wright) são de extrema importância pro desenrolar da trama, e sendo uma conclusão, servem como uma última viagem, mas dessa vez, só de ida. A nova 007 (Lashanna Lynch) teria deixado a saudosa M (Judi Dench) intrigada com tamanha dedicação. Com um jeito de durona e disciplinada, Nomi tem todas as qualidades que uma espiã do serviço secreto tem que ter, algo que gera um contraste com a personalidade imprevisível de Bond, rendendo momentos bastante interessantes entre os dois. 


Vale abrir um parêntese para a incrível Paloma. Interpretada por Ana de Armas, a personagem aparece ainda no primeiro ato do filme, para ajudar James a lidar com uma situação envolvendo a organização Spectre, e em pouco menos de 20 minutos, consegue roubar a cena no maior estilo ''femme fatale'', praticamente sendo protagonista de um curta-metragem dentro do universo 007. Sua presença é forte, sedutora, necessária e quando sai de cena, o espectador fica com um desejo de ter visto mais dela em cena. Se tem 007, tem MI6, e dentro da narrativa, o serviço secreto tem uma missão que consiste ir contra o próprio sistema no qual está inserido, para obter êxito no que é necessário conseguir dos inimigos, algo que vimos acontecer bastante no excelente Skyfall (2012).


Agora, chegamos em um dos principais pontos de Sem Tempo Para Morrer. A relação entre James e Madeleine Swann (Léa Seydoux) é o que faz a história desse filme acontecer, e por isso, recebe uma atenção maior por parte do roteiro. Diferente de Spectre, onde não sentíamos quase nada por eles, aqui temos um misto de sentimento por eles. Há momentos genuinamente emocionantes, principalmente no segundo ato, onde revelações importantes envolvendo ambos são evidenciadas para quem assiste. Nesse quinto filme é onde fica mais claro como o 007 de Daniel Craig é pautado em um sentimentalismo que pouco foi abordado por outros atores nesse papel. As motivações dele são guiadas por emoções relacionadas com acontecimentos passados ou amizades criadas no seu arriscado e perigoso trabalho. De longe é o filme que Craig mais está à vontade no personagem, com direito até mesmo a piadas e trejeitos mais cômicos, que certamente é fruto da mão de Phoebe Waller-Bridge (Fleabag) no roteiro.


A direção de Cary Joi Fukunaga (Beasts Of No Nation) pode não ser tão teatral e sequencial como a de Sam Mendes (Skyfall, Spectre) mas também funciona tão bem quanto. Sua condução do filme é bastante precisa, e entrega o ar elegante característico da franquia, juntamente com a melancolia que o clima de despedida traz. Alguns fatores técnicos contribuem para isso, como a cinematografia de tons frios de Linus Sandgren e a trilha minimalista mas poderosa de Hans Zimmer. Em determinados momentos, o longa chega a flertar com o gênero Terror, especialmente na cena inicial, e em uma sequência na floresta no meio do filme, que é simplesmente de tirar o fôlego. 


007 - Sem Tempo Para Morrer marca o fim de uma era importante para mudanças significativas dentro da franquia, que apesar de ter elementos bastante clássicos ainda presentes, mudou a visão de muita coisa dentro desse universo. Claro que nada disso teria sido possível sem Daniel Craig, que se entregou de corpo e alma pro papel, deixando para a história do cinema um James Bond, que mesmo com o fim, será lembrado por muito tempo por essa passagem nos longas como o agente secreto. Agora, resta esperar para saber quem será a nova pessoa a trajar um terno elegante, dirigir um Aston Martin DB5 e pedir para beber um Martini, batido, não mexido.


8,5/10




 

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