O 25º filme da franquia 007 também é o último a contar com o ator
Daniel Craig
no papel de James Bond, que teve sua estreia em
Casino Royale (2006). Os cinco filmes dele, além de terem a missão de trazer um ar mais moderno
para as histórias de Ian Fleming, apresentaram uma versão mais humanizada do
personagem, indo mais fundo em sua personalidade, com atitudes impulsivas e
movidas pelo sentimentalismo que sempre ocasionavam em uma colisão de sua
vida pessoal com a licença para matar concedida pelo serviço secreto
britânico MI6. ''Sem Tempo Para Morrer'' conta sua própria história e precisa fechar todas as pontas soltas
deixadas nos filmes anteriores de uma era do espião que já pode ser
considerada uma das mais marcantes.
Por muito tempo, o nome para esse projeto era Bond 25, até que decidiram
usar o subtítulo ''Sem Tempo Para Morrer'', e não podia ser um nome melhor o
escolhido para essa história. O tempo é sem dúvidas um dos maiores
personagens presentes na trama, seja pelo longo tempo de duração, pela idade
de James sofrendo com conflito geracional, ou a corrida contra o relógio que
pode custar a vida de amores, amigos e de maioria do mundo do agente
britânico. O longa inclusive abre com uma das primeiras falas sendo ''Temos
todo o tempo do mundo'', fazendo referência ao
Serviço Secreto de Sua Majestade (1970), único filme da franquia a contar com
George Lazenby
como Bond.
A conclusão dessa parte da franquia tem o primeiro arco narrativo em que as
ameaças apresentadas pelo vilão possuem uma proporção global, diferente dos
anteriores que tinham problemas mais contidos e locais.
Rami Malek
até que tenta, mas entrega um contraponto que não diz muito ao que veio, e
até chegar no terceiro ato, não fica claro o que motiva a pôr seu plano em
prática. Em grande parte do tempo, remete aos inimigos mais caricatos dos
primeiros filmes protagonizados por
Sean Connery. Christoph Waltz
está de volta na pele de Blofeld e apesar de ter uma participação curta,
ajuda a fechar de vez o que havia sido deixado em aberto em Spectre (2015). A cena que encerra sua participação no enredo é tensa e intrigante,
lembrando bastante o interrogatório do Coringa em
Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008).
Um grande destaque é algo que chama a atenção desde o primeiro filme: O
núcleo secundário. Esse ponto de qualidade que em todos os longas é
ressaltado, aqui ganha uma importância maior ainda. Em alguns momentos, a
presença deles dita os acontecimentos, deixando de ser apenas um mero guia de
Bond em sua jornada. Retornos de personagens como Felix (Jeffrey Wright) são de extrema importância pro desenrolar da trama, e sendo uma conclusão,
servem como uma última viagem, mas dessa vez, só de ida. A nova 007 (Lashanna Lynch) teria deixado a saudosa M (Judi Dench) intrigada com tamanha dedicação. Com um jeito de durona e disciplinada,
Nomi tem todas as qualidades que uma espiã do serviço secreto tem que ter,
algo que gera um contraste com a personalidade imprevisível de Bond, rendendo
momentos bastante interessantes entre os dois.
Vale abrir um parêntese para a incrível Paloma. Interpretada por
Ana de Armas, a personagem aparece ainda no primeiro ato do filme, para ajudar James a
lidar com uma situação envolvendo a organização Spectre, e em pouco menos de
20 minutos, consegue roubar a cena no maior estilo ''femme fatale'',
praticamente sendo protagonista de um curta-metragem dentro do universo 007.
Sua presença é forte, sedutora, necessária e quando sai de cena, o
espectador fica com um desejo de ter visto mais dela em cena. Se tem
007, tem MI6, e dentro da narrativa, o serviço secreto tem uma missão que
consiste ir contra o próprio sistema no qual está inserido, para obter êxito
no que é necessário conseguir dos inimigos, algo que vimos acontecer
bastante no excelente
Skyfall (2012).
Agora, chegamos em um dos principais pontos de Sem Tempo Para Morrer. A
relação entre James e Madeleine Swann (Léa Seydoux) é o que faz a história desse filme acontecer, e por isso, recebe uma
atenção maior por parte do roteiro. Diferente de Spectre, onde não sentíamos
quase nada por eles, aqui temos um misto de sentimento por eles. Há momentos
genuinamente emocionantes, principalmente no segundo ato, onde revelações
importantes envolvendo ambos são evidenciadas para quem assiste. Nesse
quinto filme é onde fica mais claro como o 007 de Daniel Craig é pautado em
um sentimentalismo que pouco foi abordado por outros atores nesse papel. As
motivações dele são guiadas por emoções relacionadas com acontecimentos
passados ou amizades criadas no seu arriscado e perigoso trabalho. De longe
é o filme que Craig mais está à vontade no personagem, com direito até mesmo
a piadas e trejeitos mais cômicos, que certamente é fruto da mão de
Phoebe Waller-Bridge
(Fleabag) no roteiro.
A direção de
Cary Joi Fukunaga (Beasts Of No Nation) pode não ser tão teatral e sequencial como a de
Sam Mendes
(Skyfall, Spectre) mas também funciona tão bem quanto. Sua condução do filme
é bastante precisa, e entrega o ar elegante característico da franquia,
juntamente com a melancolia que o clima de despedida traz. Alguns fatores
técnicos contribuem para isso, como a cinematografia de tons frios de
Linus Sandgren
e a trilha minimalista mas poderosa de
Hans Zimmer. Em determinados momentos, o longa chega a flertar com o gênero Terror,
especialmente na cena inicial, e em uma sequência na floresta no meio do
filme, que é simplesmente de tirar o fôlego.
007 - Sem Tempo Para Morrer marca o fim de uma era importante para mudanças
significativas dentro da franquia, que apesar de ter elementos bastante
clássicos ainda presentes, mudou a visão de muita coisa dentro desse
universo. Claro que nada disso teria sido possível sem Daniel Craig, que se
entregou de corpo e alma pro papel, deixando para a história do cinema um
James Bond, que mesmo com o fim, será lembrado por muito tempo por essa
passagem nos longas como o agente secreto. Agora, resta esperar para saber
quem será a nova pessoa a trajar um terno elegante, dirigir um Aston Martin
DB5 e pedir para beber um Martini, batido, não mexido.
8,5/10
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