Adolescentes, acampamento e um assassino à solta. Com certeza você já viu
esse filme e se não viu, conhece algum. Um dos subgêneros mais celebrados do
slasher, o massacre em acampamentos ficou muito popular nos anos 80 com
Sexta-Feira 13 e teve diversos similares, cujo foco não está em oferecer uma
grande obra da sétima arte e sim replicar com sucesso clichês cujos fãs
desse tipo de filme amam assistir. E “Rua do Medo: 1978 – Parte 2” entrega
quase que com perfeição tudo isso, deixando para trás tudo o que o seu
antecessor pecou em execução.
A história do filme começa na busca por respostas para o problema
apresentado no arco final de 1994, que nos leva para o ano de 1978 no
acampamento Nightwing, outro massacre promovido pelas forças diabólicas da
bruxa Sarah Fier em Shadyside. E começamos logo na resolução de um
problema deixado pelo primeiro filme, pois dessa vez, essa sequência não
parece um episodio de série prolongado e sim um filme próprio que se
sustenta com início, meio e fim, por mais que necessite da existência do
primeiro para que o argumento exista. Porém essa dependência não causa a
sensação de falta, pelo contrário, já que até mesmo o arco iniciado pela
metade no começo da narrativa encontra conclusão.
Toda preocupação com a estética visual do primeiro filme também é
descartada para dar lugar a uma fotografia que se adequa a história e ao
estilo de filme que estamos assistindo, mais centrada em tons terrosos e com
destaque a locais isolados pelo escuro. Há uma grande sensação de solidão e
espaços escuros separando os ambientes comuns o que aumenta a margem de
perigo que pode estar em todos os lugares. Um grande ganho dessa mudança é
que o filme não precisa se esforçar para sinalizar que está na década de 70,
enchendo o roteiro de exibicionismos baratos para se afirmar como um filme
retrô. A trama se passa nos anos 70 e é isso, todos os elementos que por
ventura são característicos dessa época estão lá de forma natural na trama.
Os protagonistas, que são outro ponto baixo do filme anterior, nessa
sequência são muito mais carismáticos, bem escritos e apresentam uma
atuação melhor também. A trama foca nas irmãs Cindy e Ziggy Berman
(Emily Rudd
e
Sadie Sink) que tem características opostas. Enquanto Cindy faz seu melhor para
estar longe dos estereótipos de Shadyside, Ziggy é impulsiva e uma alma
rebelde. E não apenas em personalidade, as personagens apresentam mais
substância em suas motivações tendo camadas que vão sendo descobertas
conforme a história avança e necessita que suas motivações sejam
esclarecidas. Isso também ocorre com os personagens de apoio que
continuam ótimos e tão interessantes quanto as protagonistas, como Alice (Ryan Simpkins), amiga de Cindy, e o futuro xerife Nick Goode (Ted Sutherland), que aparece em sua versão mais velha no primeiro filme.
Por fim, as cenas de horror continuam sendo o ponto alto da franquia. Dessa
vez, o filme não precisa se reafirmar o tempo inteiro em referências à
outros filmes de horror e caminha bem com as próprias pernas quando o
assunto em causar medo e sustos genuínos. As cenas de assassinato são ainda
mais brutais, por mais que em sua maioria sejam muito rápidas, porém
eficazes. As homenagens são bem mais bem feitas do que em 1994, com destaque
a cena que referência o clássico “Carrie – A estranha”.
Outro ponto alto é o serial killer. Ao estabelecer uma única ameaça, o
filme ganha em tratar melhor o personagem em sua abordagem assassina que o
confere um ar ainda mais ameaçador. O visual, mesmo sendo um
descaradamente copiado da estética de Jason Voorhees em “Sexta-Feira 13 –Parte 2” é eficiente em ser uma imagem assustadora e o trabalho de atuação
corporal McCaleb Slyter como jovem possuído pela entidade maligna é muito
bom.
Os pontos baixos ficam pela conclusão apressada tanto ao fim do momento em
1978, que não incomoda tanto, quanto pelo retorno da história ao ano de
1994. Esse “segundo” final desaponta ainda mais do que a conclusão da
história do acampamento Nightwing por ser simplista e rápido demais. Em
menos de 2 minutos, o grande desafio de ambos os filmes é reduzido a uma
atividade simples que não apresenta nenhuma dificuldade e nem rende sequer
um único momento assustador.
“Rua do Medo: 1978 – Parte 2” é assustador, violento, divertido,
interessante e consegue satisfazer os fãs de slasher de acampamento e o
público geral com sagacidade e qualidade em quase tudo que executa. Com
facilidade um dos melhores filmes de terror do ano ao equilibrar de forma
muito satisfatória as homenagens sem deixar de ser um filme com uma alma
própria por mais que esta alma esteja condenada por Sarah Fier.
Nota: 8,5/10
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