Malcolm
(John David Washington) é um diretor de cinema em ascensão. Marie (Zendaya) é
uma atriz em decadência. Durante uma madrugada, o relacionamento do casal é
colocado à prova quando atritos profissionais e pessoais se entrelaçam e são
expostos. Além da trama envolvendo o casal, o longa também aborda a relação
entre artista e crítica, com alguns comentários reflexivos, mas essas são duas
pontas que não se conectam bem narrativamente.
A
primeira coisa que chama a atenção em Malcolm & Marie com certeza é seu
visual. Trazendo uma fotografia em preto e branco, essa estética não possui
apenas um sentido visual, como também complementa a trama, demonstrando a
densidade que está pairando entre o casal. A arquitetura da casa onde a
história é ambientada passa um aspecto teatral para o filme, que também
demonstra esse aspecto na direção de Sam Lewinson, que sempre aposta em ângulos
com um ponto de vista de fora da casa, fazendo o espectador ter uma sensação de
que está em uma platéia, acompanhando aquela história ser contada em vários
atos isolados. É interessante ressaltar que esse filme foi gravado poucos meses
após o início da pandemia de Covid-19 no mundo e indiretamente o filme passa
essa sensação de isolamento, tanto com o mundo exterior, como entre os
personagens.
O
roteiro oscila entre momentos de discussões e reconciliações entre os
personagens, mas também há espaço para fazer breves pontuações acerca do trabalho
do crítico de cinema (eita!). O ponto negativo é que o longa não estabelece um
bom equilíbrio entre essas temáticas, pois os elementos são trabalhados em
extremos. Quando tudo parece estar se normalizando, novamente as brigas
ressurgem de forma bastante brusca, com fortes agressões verbais entre os dois.
Isso acaba prejudicando a cadência rítmica do filme e passando uma impressão de
que a história é rasa, por se estender até demais em certos diálogos. Os poucos
momentos em que há revelações sobre os passados de ambos não mostram se aquilo
realmente é totalmente verdade ou se é apenas algo dito na impulsividade
durante as discussões.
O
filme faz observações sobre as análises que alguns críticos fazem de um filme e
a forma como eles tentam achar significados muitas vezes inexistentes dentro de
uma obra. Ao mesmo tempo, dentro da trama existe uma autocrítica pois os
personagens acabam por reproduzir alguns dos clichês que eles mesmos reclamam.
A
química entre John David Washington e Zendaya funciona, mas suas atuações são
um pouco exageradas em determinados momentos, de modo que fica um pouco difícil
de tentar compreender os argumentos de cada um. Malcolm passa um sentimento de
confiança e um ego bastante inflado por seu filme estar sendo bem recebido,
enquanto Marie aparenta usar a agressividade para se fechar e não demonstrar
sua grande fragilidade, proveniente de seu passado problemático. O silêncio
fala bastante no longa, gerando um sentimento do distanciamento emocional no
qual os personagens estão passando e revelando um pouco sobre a personalidade
cada um.
Malcolm
& Marie apresenta uma boa premissa, mas que não encontra um bom equilíbrio no
que pretende abordar. É um deleite estético e se torna interessante assistir
para analisar o comportamento apresentado pelos personagens durante seus
confrontos.
6/10
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